"A divina partícula”
"Sem esgotar as possibilidades, pode ver-se nela [partícula de Deus] uma analogia entre a descrição popular das características do instável e esquivo bosão de Higgs e o não menos popular entendimento de Deus, nas religiões monoteístas, como ‘algo’ ou ‘alguém’ que ‘está em todo o lado, mas que não podemos ver’, isto é, que escapa ao conhecimento dos nossos sentidos. Ou uma comparação entre respostas fundamentais – uma de natureza científica, outra de carácter religioso ou filosófico – à mais velha das perguntas (‘por que existe o universo; por que existimos nós?’). Ou, mais simplesmente, um recurso estilístico para transmitir recorrendo a campos de significação distintos, a noção de procura de resposta a um enigma ou mistério essencial que nos desafia." (Jornal Público, 5 de julho de 2012, p. 55, José Queirós)
Ao que parece a expressão usada pelos meios jornalísticos a partir do título de um livro do físico Leon Lederman (The God Particle) criou polémica e desagrado por parte de alguns “fundamentalistas” do materialismo e do naturalismo que não conseguem nem admitem qualquer ponto de contato entre a ciência e a fé, ou melhor dizendo, entre Deus e a Sua criação material. O interessante é que o título acabou por ser criado pelo editor do livro percebendo que o título dado pelo autor não teria o efeito de marketing pretendido – “the goddamn particle” (qualquer coisa como ‘a maldita partícula’, ou ‘o raio da partícula’).
Para nós que levamos a sério e à letra a Bíblia no que ela tem de literal, não existe nada de estranho nem sensacionalista. Tudo o que existe é resultado da ação criadora de Deus, portanto com a marca divina embora não sendo nem deus nem divina. Convém dizer que também não nos subsiste qualquer dúvida de que o Criador não é um ‘algo’, mas ‘Alguém’. A este sentido literal da Bíblia não retiramos a revelação primordial das origens resultado da ação criadora de Deus e sobre as quais a razão humana se debruça. Não confundimos a ciência com o ateísmo que à viva força e de modo absolutamente literal quer expulsar Deus procurando argumentos onde eles não existem, ou tentando subtrair Deus de onde Ele nunca pode ser retirado porque omnipresente.
“No princípio criou Deus os céus e a terra." (Génesis 1:1 – tradução de João Ferreira de Almeida).